Unidos da Saudade denuncia fraude, vai à Justiça e tenta o cancelamento do carnaval 2014

O carnaval de 2014 em Nova Friburgo não terminou na passarela do samba e deverá ser decidido na Justiça. A Unidos da Saudade entrou com uma ação no Ministério Público nesta segunda-feira, 19, pedindo o cancelamento do resultado dos desfiles das Escolas de Samba, baseado em vídeo gravado por dois componentes da escola. As imagens feitas no mês de abril — cerca de um mês após a apuração das notas — mostram uma conversa entre os diretores da roxo e branco e um dos coordenadores dos jurados, contratado pela Liga das Escolas de Samba de Nova Friburgo. Responsável por 15 julgadores (os outros 15 eram de responsabilidade de outro coordenador), ele admite ter recebido propina para adulterar algumas notas. 

"O coordenador fala que veio com as notas prontas para derrubar uma escola de samba, que é assim que ele está acostumado a fazer. Com isso, a Saudade deseja ou o cancelamento do carnaval ou que as três agremiações sejam declaradas campeãs. Não estamos acusando ninguém, nenhuma agremiação ou dirigente. Estamos pedindo à Liga para que cancele o resultado do carnaval até que a Justiça investigue o que este cidadão falou. Divulgamos para a imprensa, mas preservamos o nome dos envolvidos e soltamos a parte em que o coordenador explica como é feito o esquema, cita o nome de Nova Friburgo e fala que só tinha quinze jurados”, esclarece Peter Filot, presidente da Unidos da Saudade.

O vídeo, de aproximadamente 30 minutos, foi gravado no Campo de Santana, no Rio de Janeiro. A ideia de investigar as notas surgiu com o descontentamento pelos 9,5 atribuídos ao samba-enredo da Saudade, sob a justificativa de não ter empolgado o público na avenida. A escola procurou o responsável pelo jurado, e antes da gravação, realizou outros dois contatos no espaço de um mês. "A gente não pode ir até o jurado de samba-enredo. Existe o coordenador que é responsável pela metade do júri. A gente pega as notas dos jurados sob responsabilidade deste coordenador e analisa. Nos outros quinze, foram notas normais. Mas nesse em questão foram notas baixas, especialmente em samba-enredo”, analisa Peter.

O coordenador envolvido na denúncia, de fato, não cita o nome de nenhuma agremiação. Durante a conversa, ele revela a intenção de prejudicar uma das escolas nos quesitos samba-enredo e comissão de frente e explica o funcionamento do esquema — que admite também ser utilizado em outras cidades para as quais presta serviço — os jurados chegam para avaliar os desfiles já com as notas e justificativas prontas. Na avenida, o coordenador passa pelas cabines e apenas pede para que utilizem a própria letra. O valor da propina seria de 20 mil reais (a contratação do coordenador custou 2 mil reais e cada jurado recebeu 600 reais), mas por enquanto não existem suspeitos quanto ao autor do pagamento, tampouco informações sobre a origem do dinheiro. "Para ele foi normal explicar o esquema. Nunca imaginaria que estaria sendo gravado daquela maneira. Ele foi muito natural.”

A Unidos da Saudade alega que tentou resolver a questão internamente no primeiro momento, e realizou diversas reuniões com representantes da Liga das Escolas de Samba. No último encontro, diretores da Vilage no Samba teriam recusado qualquer acordo. "Vamos repassar uma cópia do material à Liga, pois queremos que esteja sempre por dentro de tudo. Primeiro tentamos resolver internamente, não conseguimos. Reunimos documentos, o vídeo na íntegra, as outras conversas e entregamos tudo à Justiça. Eles farão o encaminhamento ao Ministério Público”, conta Peter.

Ainda não há prazo para o julgamento do processo, mas a Unidos da Saudade espera que o resultado do carnaval seja suspenso até a definição judicial. A Liga das Escolas de Samba de Nova Friburgo ainda não se pronunciou sobre o assunto. O imbróglio, inclusive, poderá colocar em xeque a credibilidade do carnaval friburguense. Os movimentos em prol da folia na cidade correm riscos de enfraquecimento e a luta por maiores recursos ganha mais um adversário. Apesar do cenário desfavorável, Peter pondera sobre as possíveis consequências negativas à folia na cidade. "Queremos mostrar que estamos de olho. Não só a Saudade, mas todas as agremiações vão ficar mais atentas, e se for comprovado que alguém realmente fez isso, que a pessoa pense duas vezes. É difícil conseguir patrocinador para o carnaval. Além de paixão, tem dinheiro público e privado envolvidos. Tudo que nós queremos é preservar o carnaval e evitar o atrito.”



Vilage contesta; Imperatriz defende a anulação

Ao tomar conhecimento do vídeo e da ação impetrada pela Unidos da Saudade, a Vilage no Samba divulgou nota oficial contestando as denúncias. A verde e branco de Duas Pedras, inclusive, pede que o coordenador envolvido seja convocado para prestar esclarecimentos, e promete tomar as devidas providências judiciais contra as acusações.

Terceira colocada no carnaval deste ano, a Imperatriz de Olaria declarou apoio ao cancelamento dos resultados, através de nota assinada pelo presidente André Gripp. A vermelho e branco defende uma "punição exemplar aos envolvidos” na suposta fraude.

 


 Íntegra da nota oficial da Vilage no Samba


"São mais do que graves as denúncias orquestradas pelos dirigentes do G.R.E.S Unidos da Saudade. Elas colocam em dúvida muito mais do que a lisura do julgamento do carnaval 2014 e vão de encontro a maior violência contra a dignidade humana: a injustiça. Agredindo os princípios básicos da cidadania e machucando o indivíduo na sua liberdade, na sua paz, na sua alma.

Neste caso, as denúncias ardilosamente construídas, orquestradas e divulgadas, ainda sem qualquer apuração, atingiram um numeroso grupo de pessoas que trabalharam, desfilaram, torceram apaixonadamente por um título que fora consagrado por toda cidade. Fora ganho na avenida, da mesma forma que fora perdido nos três últimos carnavais. Neste sentido, não há dano individual, mas a uma instituição sexagenária e, sobretudo, a uma digna comunidade.

Não é preciso ser estudioso de leis para saber que o ônus das provas cabe ao acusador. Nele também esbarram as responsabilidades civil e penal de suas ações. Basear-se em falácias, divulgar calúnias, sem o responsável e garantido direito constitucional ao contraditório, pode incitar uma perigosa violência social, condenada em todo nosso ordenamento jurídico.

Pelos motivos expostos, o G.R. Vilage no Samba solicita a imediata convocação do coordenador do último corpo de julgadores do desfile de 2014, para prestar esclarecimentos junto a Liga de Escolas de Samba e Blocos de Enredo de Nova Friburgo sobre os fatos narrados em gravação trazida ao conhecimento público pela diretoria da Unidos da Saudade. É dever da Liga apurar os fatos e não permitir que a mentira prospere, resguardando o direito das pessoas de boa fé.

A Vilage no Samba promoveu um carnaval incontestável, referendado pela maioria do povo e da imprensa, e irá responsabilizar civil e criminalmente a todos aqueles que tentaram denegrir a imagem da Agremiação, sem prejuízo das ações civis e penais individuais que couberem a cargo do diretor ofendido. Estas ações serão estendidas também aos que fomentam calúnias nas redes sociais, tendo como base o novo texto do Marco Civil.”

POR AVS


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